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Runtime: 50'37''
«Quando os Rolling Stones compuseram “Sympathy for the Devil” e Mick Jagger, o vocalista do grupo, gravou sequências de sintetizador Moog para a banda sonora de um filme de inspiração satânica, o mítico “Invocation of My Demon Brother” de Kenneth Anger, e quando Alice Cooper levou uma jibóia para o palco de modo a melhor encenar a sugestão de que uma bruxa havia possuído a sua alma e os Black Sabbath conotaram o som da distorção guitarrística com as missas negras, o que realizaram – em consciência ou não – foi uma deturpação da índole do rock como música pagã. Terão entendido que havia nela algo de celebratório, mas interpretaram essa ancestral vertente potlatch de modo errado. Em vez de exaltarem o carácter de concertação com os elementos e de concórdia social que o ritualismo tinha no passado remoto das primeiras comunidades humanas, deixaram-se fascinar pelo medo do que está do “outro lado” – entre Timothy Leary e Charles Manson, escolheram Manson. Pode até ser que as propostas dos Stones e dos Sabbath nos tenham soado melhor do que as de uns Amon Düül, colectivo hippie alemão cujas habilitações propriamente musicais estavam circunscritas apenas a alguns dos seus elementos, mas o certo é que os inábeis tocadores de bongos que o integravam estavam mais próximos da natureza espiritual do rock, aquela a que foi sendo dado o nome de “psicadelismo”. Ao contrário do que nos vêm dizer uns Sunn 0))), o rock não adora o diabo, mas o deus Pan.
Os portugueses DOPO seguem essa tradição quase perdida do rock (digo “quase” não porque o modelo death / doom metal se tenha tornado hegemónico, mas porque o “mainstream” deste domínio musical escolheu outras místicas: o dinheiro, a fama e a moda). São ritualísticos, psicadélicos e deliciosamente não-virtuosísticos, “tocam” a vida sem a mínima pretensão de dela fazerem Arte, improvisam. Nos antigos rituais, música e dança não eram ainda a música e a dança que conhecemos, disciplinas artísticas, mas expressões cerimoniais da vida, destinadas a estabelecer vínculos entre os indivíduos (ou a resolver os seus conflitos) e a comunicar com o além. O que ouvimos no novo “For the Entrance of the Sun”, e mais acentuadamente ainda do que no anterior “Last Blues, To Be Read Someday”, tem essa dimensão simultaneamente “folk” e “sacra”, é música do povo e do espírito, ainda que se trate de folclore imaginário (pudera, num tempo em que os alicerces de betão substituem as raízes das árvores!) e de um sacralismo alternativo ao das religiões instituídas, obviamente não reconhecido por estas e não enquadrável com exactidão em tal termo tão delimitativo, se o lermos segundo a grelha judaico-cristã do entendimento. Encontramos elementos das músicas orientais? Decerto, e isso porque as ditas estão ainda hoje mais próximas da terra. Há algo de antigo (medieval, porventura) no trabalho das guitarras? Haverá, e porque este rock procura a intemporalidade e não um qualquer situacionismo geracional. O órgão Antonelli fabrica uma base sonora “drônica”, em tudo semelhante às produzidas pelos harmónios indianos, mas a percussão é fortemente sincopada e mesmo tribal, inclusive nos momentos em que o navio África atraca no Tibete.
Assim como a nova improvisação “near silence” ganhou mais um centro nevrálgico em Portugal com músicos ou não-músicos como Ernesto Rodrigues, Carlos Santos, José Oliveira e Pedro Chambel, o rock neo-psicadélico, rock em reconciliação consigo mesmo (o que é verdade até nas situações em que a condição rock parece desaparecer), tem mais um nome a acrescentar a um painel onde já constam Loosers, Caveira e Frango, e esse nome é DOPO. É bom fixá-lo de uma vez por todas...» - Rui Eduardo Paes
«There's a moment about a minute and a half before the close of DOPO's track "For the Entrance of the Sun (Pt. I)" when a bit of feedback peaks out, glistening and razor sharp. That snap breaks open the group's droney, folksy, communal music to reveal its darker operating principle.
Electric instruments are nothing new to folk music, no more so than is the psychedelic imagery DOPO embraces. But the five-person DOPO takes its electrical charge seriously, dancing with that power. The snap in question hints at the way that gentle sounds can be found, in time, to have hidden deeper impulses.
Here are eight tracks of magical, trance-inducing music, less composition than rituals, and each one of them keeps a meditative state at bay by summoning the power of that electrical charge.
Sometimes it is literal, as on "Horses Running Towards the South," with its serrated halo of woozily strummed guitar, and "All the Mountains Are Dancing," which has more than its share of chord shards. Those sparks bring a certain friction to the cycling percussion, slacker rhythms and junk-pile arrangements that are DOPO's stock in trade.
The most trenchant pieces on Entrance, though, like "17 Ways to Kill a Man" and "Time Floats by the Window," manage to separate that electrical power from its source. They jettison the objective specificity of an individual instrument and emphasize the tonal purity of amplification. In this environment, a bit of feedback isn’t a mistake; it’s a quick flash of insight.»
- Marc Weidenbaum |
Downloads:
01 |
• Exotica whores ........................................................................ |
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[2'46'' • 4,99Mb • VBR] |
02 |
• All the mountains are dancing; are dancing! ........................ |
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[7'54'' • 14,2Mb • VBR] |
03 |
• For the entrance of the sun (Pt. I) ........................................... |
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[7'25'' • 13,5Mb • VBR] |
04 |
• Here in the day's after-glow .................................................... |
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[1'23'' • 2,49Mb • VBR] |
05 |
• Time floats by the window ...................................................... |
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[8'00'' • 14,4Mb • VBR] |
06 |
• Horses running towards the south ......................................... |
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[9'36'' • 17,2Mb • VBR] |
07 |
• For the entrance of the sun (Pt. II) ......................................... |
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[6'53'' • 12,3Mb • VBR] |
08 |
• 17 ways to kill a man ............................................................... |
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[6'40'' • 12,0Mb • VBR] |
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• artwork ................................................................................... |
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• all tracks + artwork ................................................................ |
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Reviews:
«Dopo na aventura colorida do álbum “For the Entrance of the Sun”.
O início deste disco é feito com sons vindos de um deserto oriental. Sente-se uma dança exótica, num imaginário capaz de absorver os encantos deste projecto.
Caminhamos depois por percursos longos de 7, 8 e 9 minutos. Temas flutuantes que nos elevam às fantasias e ao prazer de um ouvido recheado de purismo sonoro.
O ritual é feito por André Gomes, Pedro Rios e Kamanu. Servem-se doses puras de guitarra, sons cintilantes e um tambor selvagem que proclama por vida. Psicadelismos no seu estado mais consciente, no seu estado mais cristalino…
“For the Entrance of the Sun” celebra o lado mais puro do rock. A celebração celestial.
A união torna-se perfeita, quando aos DOPO, se juntam as maravilhas da Test Tube e da Lovers & Lollypops. A receita está completa. Há fumo novo, muito fumo a sair deste caldeirão de ideias que ferve. E nós, cá estaremos para tirar uma colherada!»
- Fenther / June 2007
«Una banda portuguesa que tiene su disco online para bajarlo gratis. Bellas composiciones de guitarras que se extienden, logrando un horizonte colorido y monótono por momentos. Hay un par de temas que no parecen a la altura del resto, es cierto, pero si usté está buscando pisdodelia minimalista de guitarras, no dude, vaya a esto que es seguro.»
- Bettina [deVelvet] / June 2007
«Depois do lançamento de 'Last Blues,To Be Read
Someday' chega-nos agora o novo disco do trio formado
por André Gomes, Pedro Rios e Kamanu. A viagem
continua pela busca entusiasta de novos sons, pelo
improviso, e demonstrando-o numa sonoridade única,
num exotismo digno dos Sun City Girls. A par de bandas
como os Loosers, Frango, Osso e outros projectos, a
verdade é que há um movimento de música estranha
a eclodir em Portugal. Os Dopo servem-se de instrumentos menos convencionais, sejam instrumentos de
brincar ou objectos capazes de mergulhar numa espécie
de Ragas Folk. Busca-se a transcendência, a libertação
de qualquer ideia pré-estabelecida, um estado superior
muito característico do período psicadélico e que ainda
hoje podemos encontrar em bandas como os Acid Mothers
Temple. A âncora deste trabalho está na Folk, na
sonoridade estranha dos Fursaxa, o tribal e a vontade
de vibrar o corpo em danças espirituais. A ruralidade
é alienada ao jeito dos Excepter – 'Horses Running
Towards the South' entrega-se ao crescendo de efeitos
e quando entram ritmos circulares tudo parece levitar.
“17 Ways to Kill a Man” é um silêncio pesado, uma
guitarra que invoca os Earth do presente e o murmúrio
ambiental de um qualquer templo budista... Psicadélico.
Disco disponível para download gratuito em:
www.monocromatica.com/netlabel/» (3,7/5)
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PN [underworldmag.org #23] / May 2007
«(...)
Os Dopo são arruaceiros. Isto é: não se importam com o rumo que as coisas levam, com as modas que apetrecham as prateleiras das lojas e brincam a um Rock já de meia-idade – ainda o pós-Rock não era conceito inventariado –, aquele de braços dados com o psicadelismo. Podemos enfiá-los no berço hippie dos anos 60; na deturpação caótica do barulho urbano, da maquinaria, da indústria; no surrealismo desesperado e arrastado; no erotismo latente na Natureza, dos corpos desenraizados e das entranhas revoltas. Mas etnomusicologia à parte, certo é que estes rapazes apetrecham a imaginação das mais indomáveis viagens. Sim, no cliché: no velhinho dito da viagem.
Exotica whores é a primeira bola de sabão que nos encaminha os passos que, sem nunca rebentar, se adiciona à próxima, e ainda à outra, formando no tempo um pequeno mundo dotado de toda a vida necessária à nutrição das gentes, uma grande bola de sabão com um pulsar dentro. Here in the day's after-glow e Horses running towards the south são as pérolas que se atrevem ainda, a traços leves, a incluir alguma da Folk que sempre ligou música e terra. 17 ways to kill a man é um psicótico final para uma peça que, não sendo transitória ou obra-prima, se afirma a poderes próprios com as garras pagãs de uma conversa amena.
For the Entrance of the Sun, o segundo da banda, é um esforço conjunto de duas editoras – a Test Tube (netlabel de onde se pode descarregar gratuitamente o disco) e da Lovers & Lollypops (dedicada ao cd-r), as mesmas responsáveis pelo lançamento do projecto The Astroboy. No entanto, mais grave que isto é que transforma os Dopo numa das mais sérias promessas da música portuguesa. E deixar que estes meninos passem despercebidos só pode ser sintomático de uma qualquer letargia há muito anunciada. Está aqui a oportunidade de levar a coisa aos eixos. Está aqui a ressurreição!»
- Hugo Torres [Rascunho.net] / April 09, 2007
«(...) Now, more exciting is the release of their first full-length, back in January of this year. "For the Entrance of the Sun" is a minor masterpiece, and one of the year's best so far. It's in the same vein as the first EP, but is a more fully-realized version. At times, the empathic jangle of electric guitars mixes perfectly with romp-and-stomp drumming, reminiscent of early Dirty Three. It's an absolute delight. DOPO up the ante, though, through added instrumentation and mesmerizing drones (see: "17 Ways to Kill a Man" or the title track with its hints of Volcano the Bear). Get "For the Entrance of the Sun" here: http://testtube.monocromatica.com/releases/tube063.htm. A CD-R edition was also released via Lovers & Lollypops, which is worth it strictly for the genius artwork from Gean Moreno. (...)»
- Brad Rose [Foxy Digitalis] / April 06, 2007
«(...)
Não se pense porém, que essa instabilidade prevalece por falta de detractores: a política e a religião aperceberam-se desde há muito, que seria mais fácil controlar pessoas destituídas de identidade própria – a teologia cristã chega mesmo a apresentar o conceito filosófico do “logos”, no Evangelho de S. João.
Existe no entanto um maravilhoso lado primário no espírito humano; um lado que se assume como uma parte e não como um todo. É exactamente por explorar essa desconformidade humana e essa, pelo menos aparente, falta de lógica, que a música dos DOPO se torna interessante.
De repente, a indústria musical fechou-se a si própria num ghetto: uma melhor qualidade de vida implica necessariamente, a possibilidade de cada um fazer as suas próprias escolhas, de pegar em instrumentos musicais e esperar por uma interacção, por uma sucessão de notas que apenas poderiam ser aquelas, mas que acerca disso, nada se sabia apenas há minutos atrás.
Os DOPO conseguem-no de uma forma surpreendente. Os desenhos harmónicos, aqui e ali reminiscentes das ragas indianas, dão ao ouvinte a possibilidade de ele próprio fazer parte do processo criativo. “For the Entrance of the Sun” torna-se agora num estado de espírito, num hino ao reencontro com a falácia, com a incorrecção, e acima de tudo, numa obra que apresenta o todo, sem no entanto o tentar compreender.»
- Samuel Jerónimo [PHONO] / March 03, 2007
«Gosto do som desta rapaziada. Já o tinha escrito algures por aqui ainda não faz muito, muito tempo. DOPO. O Doping (actividade de ouvir os DOPO) nunca fez mal a ninguém, nem leva gente ao controlo. Ouvir o recente For the Entrance of the Sun (tube 063), na excelente netlabel portuguesa Test Tube (abraço ao Pedro Leitão) é conhecer uma faceta diferente da dada a ouvir anteriormente, ainda que dentro do mesmo ambiente de psicadelismo xamânico primitivista. Impro-rock, diria, para facilitar quem gosta da expressão curta.»
- Eduardo Chagas [Jazz e Arredores] / February 27, 2007
«Den Anfang macht ein release, dass mir sofort Type Records in den Kopf schiessen liess, und ja es muss wohl an Xela liegen, dessen Mixe mich den Winter über begleiteten, auf Waldspaziergängen und Einsamkeit. Mit der vorliegenden testube Veröffentlichungen ist es wieder da, dieses psychedelische Amalgam von drone und folk, Querverweise zu Bands wie Sunno))) zu ziehen ist in manchen Momenten wohl fast Reflex artig.
Ich für meinen Teil bin wirklich froh, solch grossartige Musik frei im Netz angeboten zu bekommen.
Äußerst zeitgemäss, wenn man überhaupt von so etwas sprechen will/kann»
- Von Baeh [Jetzt.de] / February 20, 2007
«"For the Entrance of the Sun"; a realidade do rock actual, vai ocupando espaços que antes julgávamos pouco exequíveis de serem ocupados...pois é, o experimentalismo dos DOPO comprova-o perfeitamente.»
- Rui Dinis [A Trompa] / February 06, 2007
«Bah??? Depuis la première chronique de Dopo, rien de nouveau. C'est beau, tout simplement beau et surtout à fond seventies... On y va, donc, et, sans retenue!»
- LaFresto / January 25, 2007
«Tanto tempo à espera e quase os deixava fugir...sim, "Last Blues, To Be Read Someday", de 2005, não me foi indiferente. Pois bem, eles voltaram, diferentes, melhores...
Na verdade, hoje, ao experimentar este "For the Entrance of the Sun", segundo lançamento dos DOPO pela Test Tube, a sensação manteve-se, baseada naquela ideia de arrojo que já trazia do disco anterior. É um novo rock, criado em volta de um experimentalismo infinito, fruto duma exploração algo cerimonial, bem para além de tudo, qual culto de uma realidade inexprimível. Uma realidade. Uma ideia sonora, uma vontade prazenteira de alinhar ideias, engendrar sons, instrumentos e objectos, numa postura de manipulação e criação quase arcaica de música.
Desprovido de outras intenções senão de tocar, viver e divertir, "For the Entrance of the Sun" é a primeira boa confirmação para 2007.
Eles insistem em provocar-nos...DOPO.»
- Rui Dinis [A Trompa] / January 24, 2007
«O sol chega com uma flauta desafinada, ao som da qual uma prostituta exótica se bamboleia vertiginosamente. Uma introdução simples, mas bem explanativa do que se irá passar nos próximos 48 minutos. Do deserto de "Exotica whores", passamos para as montanhas dançantes de um lugar desconhecido, e caminhamos agora numa marcha lenta para o oriente. A música dos DOPO poderia ter sido feita do outro lado do mundo, há todo um sentimento contemplativo, uma paciência que nos faz aguardar, complacentes, pelo crescimento de cada tema. No entanto, e quando pensamos que a fotografia do álbum está já tirada, eis que a viagem nos traz de volta ao nosso mundo, ao pós-modernismo ocidental e urbano com "Here in the day's after-glow". É aqui que a world music se começa, suavemente, a unir ao pós-rock. "Horses Running Towards the South", com uma tonalidade muito próxima dos Godspeed You Black Emperor!, antecede um interlúdio nesta fase mais negra do álbum, em que o sol volta a brilhar, mas apenas para nos iludir, apenas para nos introduzir "17 ways to kill a man", novo exercício de paciência e respiração, final perfeito para esta viagem.»
- Daniel Catarino [EARLabs] / January 19, 2007 |
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©2005 Gean Moreno
©2007 aeriolabehaviour
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©2006 DOPO
©2007 test tube
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